Eu tô pensando tanta coisa ao mesmo tempo que parece que minha cabeça vai explodir como a do Kurt depois daquela mega-dosagem de heroína e do tiro na garganta.
Hoje um pouco depois de entrar no ônibus, encontrei aquele cara da biblioteca que te falei, parado no ponto lendo um livro e esperando alguém. Me decepcionei comigo porque não vi nada nele. Me desesperei porque na hora eu soube que não vi nada nele por antes ter visto você. E eu sei que isso vai passar e que amanhã ou depois eu vou continuar vendo tudo que vejo em você mas também vou voltar a ver tudo o que vejo nele. Porque é assim que funciona pra mim. Mas agora é estranho. É estranho antecipar suas mãos chegando e sentir meu corpo vacilar diante delas do mesmo jeito que a voz da Taylor Momsen vacila naquele cover de Wonderwall, soando ébria. E agora em pé na porta desse mesmo ônibus eu me importo tanto com as pessoas a minha volta quanto o governo se importa com a população porque eu me importo tanto com a tua pele coberta de pintas quanto o Scott se importa com a Ramona. Tuas mãos me invadiram como Portugal invadiu as terras Tupis e assim como saquearam nosso ouro você tomou meu ar. Mas diferente das tribos indígenas, eu não resisti. Já li esse texto mais vezes do que olhei pra tua boca hoje e mais vezes do que quis ser tudo o que ela tocava. E eu quis ser teu violão, teu dedo, tua roupa. Tentei mentalmente tocar teus lábios mais do que o Michael Jackson tentou ser perfeito antes de morrer e falhei mais vezes do que a quantidade de vitórias invictas da Ronda Rousey antes daquela última luta e com toda a certeza apanhei mais que ela. Lembrando dos teus olhos verdes eu penso que tem um pedaço deles nos meus e me sinto tão estúpida com esse pensamento quanto a Courtney se sentiu sem família lendo a carta suicida do falecido marido. "I can't grow a new heart."